O VELHO LOBO E O KAISER


 

Começo este ano voltando ao blog após longo e difícil inverno. A alegria de escrever novamente, contudo, contrasta com o sentimento de perda que o mundo do futebol está enfrentando no início de 2024, com a partida de dois gênios da bola: Zagallo e Franz Beckenbauer. Perder ambos, no espaço de três dias, passa a sensação que o futebol está morrendo um pouco.

O brasileiro e o alemão fazem parte do seleto grupo dos vencedores da copa do mundo como técnico e jogador, acompanhados do francês Didier Deschamps. A questão é que, ao contrário do treinador da França, Zagallo e Beckenbauer são considerados visionários do jogo. O Velho Lobo enquanto jogador mudou a visão do ponta agressivo, que apenas atacava, trazendo um estilo mais tático, de recomposição defensiva, fortalecendo o meio campo e permitindo que o lateral atacasse. O Kaiser, por sua vez, foi o primeiro exemplar do defensor completo, capaz de jogar em mais de uma posição, inaugurando a função de libero no esquema de três zagueiros, marca importante da seleção alemã campeã mundial em 74 e do Bayern tricampeão europeu em 74, 75 e 76.

Como técnicos, suas contribuições são igualmente importantes para o desenvolvimento do jogo. Zagallo formou o time que é considerado o melhor do século, o Brasil de 70, com a ideia de que seria possível colocar todos os grandes jogadores juntos em uma mesma equipe, encaixando Pelé, Jairzinho, Rivellino, Gerson e Tostão, os “camisas 10”. O Velho Lobo ainda trouxe inovações como o “falso nove” com Tostão, o centroavante móvel, e o lateral com liberdade para atacar (Carlos Alberto) devido à ausência de pontas, outra novidade tática da época. Beckenbauer, por sua vez, formou uma seleção compacta, capaz de chegar a duas finais de copa (86 e 90). Mais do que novidade tática, o Kaiser incutiu na equipe alemã a mentalidade vencedora que tanto o consagrou dentro de campo. Em comum, os dois formaram seleções com jogo vertical, linhas próximas, defesas solidas e ataques de transição rápida.

Zagallo disputou 7 copas do mundo como jogador, treinador e coordenador. Chegou a 6 semifinais, 5 finais e conquistou quatro títulos. Beckenbauer disputou 5 copas, alcançou 4 finais e 1 semifinal. Estes números, por si só, denotam a importância dos dois, contudo, suas maiores contribuições foram introduzir no imaginário popular duas escolas de jogo que, diferentes entre si, foram igualmente vencedoras.

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