ARSENAL COM CARA DE CAMPEÃO

Confesso que escrevo com um certo ar de incredulidade. Imaginar que o Arsenal seria o grande favorito a ser campeão da Premier League geraria uma avalanche de piadas meses atrás. Em uma liga dominada pelo Manchester City de Pep Guardiola e o Liverpool de Jurgen Klopp que vem travando disputas épicas nas últimas temporadas, presenciar a campanha do Arsenal é surreal.

Os “Gunners” enfrentam um jejum de títulos da liga nacional. Desde o histórico time que conquistou a liga de forma invicta na temporada 2003/04, o Arsenal não chega tão forte na fase final do campeonato inglês liderando a competição com a autoridade que impunha em outras épocas. O que causa um impacto maior é saber que a campanha atual dos londrinos é cinco pontos melhor do que aquele time fantástico treinado por Arsene Wenger e liderado dentro de campo por Thierry Henry.

A propósito, o campeão invicto daquela temporada era um timaço! Lehmann no gol, Lauren e Ashley Cole nas laterais, Toure e Campbell na zaga, Gilberto Silva e Vieira como a dupla de volantes, Pires e Ljungberg na criação e o ataque formado por Henry e Bergkamp. Um time inesquecível treinado por Arsene Wenger que fez história! O time atual, treinado pelo espanhol Mikel Arteta, não tem a qualidade individual daquele time histórico, mas em termos coletivos se equipara. E o cenário atual valoriza ainda mais a campanha do Arsenal. O time mantém cinco pontos à frente do Manchester City com um jogo a menos e lidera uma liga que é considerada a mais competitiva do mundo, com equipes com grande poder financeiro e equilíbrio entre si. Clubes como os de Manchester, City e United, além de Chelsea, Liverpool, Tottenham e até mesmo o novo rico Newcastle que foi comprado pela família real saudita, formam um grupo de elite equilibrado. Além deles, os times médios e pequenos também costumam competir bastante turbinados pela distribuição financeira da liga. Para termos uma ideia, naquela temporada que o Arsenal se consagrou campeão invicto, o único adversário realmente consistente era o Manchester United de Sir Alex Ferguson. Outro timaço!

A prova de que o sonho vai se transformando em realidade aconteceu no clássico deste domingo, contra o United. A equipe de Manchester vinha embalada por uma série de invencibilidade que incluía vitória no clássico contra o City. Além disso, mesmo em processo de reformulação, o United tem uma equipe mais experiente que o Arsenal e esse fator é relevante em momentos decisivos.

Só que neste domingo a juventude dos garotos do Arsenal prevaleceu. Num jogo espetacular, os “gunners” venceram o United por 3 a 2 mesmo saindo atrás no placar. O símbolo da virada foi o jovem atacante Nketiah, que brilhou com dois gols, garoto que vem executando com maestria a difícil missão de substituir Gabriel Jesus, machucado a algum tempo, no comando de ataque. O outro gol dos londrinos foi de Saka, outro talento jovem que vem fazendo uma temporada absurda.

E se eu citei o time campeão invicto, a equipe atual que lidera a liga também merece ser mencionada. O jovem goleiro Ramsdale vem segurando a pressão na meta dos londrinos, a defesa com White, Saliba, Gabriel e Zinchenko vem fazendo um campeonato muito seguro. No meio, os volantes Partey e Xhaka oferecem o suporte para o armador e capitão da equipe, Odegaard, possa finalmente provar o seu valor e no ataque o trio formado por Gabriel Martinelli, Nketiah e Saka vem dando conta do recado. Como podem perceber, em nomes o surpreendente time atual não se compara ao campeão invicto, mas em mentalidade coletiva iguala sem dúvidas.

Justamente essa mentalidade faz desse time impressionante. Nenhum jogador do time titular tem uma carreira consolidada no cenário europeu, alguns eram considerados abaixo do nível ou decepções pela expectativa que geraram no início de suas carreiras. Nesse caso, o grande mérito vai para o treinador: Arteta chegou a três temporadas na equipe e com paciência soube montar o time, afastar jogadores que não entregavam mais ao time e dificultavam o vestiário e nesse processo moldou a jovem equipe atual. Tudo isso com o apoio da diretoria do clube, liderada pelo brasileiro Edu Gaspar, que soube ter paciência e acreditar no sucesso do projeto.

Apesar da euforia, o campeonato ainda não acabou. Faltam dezoito jogos e os rivais devem jogar contra o Arsenal partidas com espirito de final de campeonato. O City, segundo colocado, passa por turbulências, mas já demonstrou em temporadas anteriores que pode se recuperar e conquistar a liga. O United, derrotado no clássico do domingo, vem em uma fase de recuperação animadora e pode eventualmente entrar na briga pelo título. Isso sem falar da novidade que é o Newcastle e todo o suporte financeiro que tem dos seus donos árabes. O jogo não acabou!

Eu poderia também do Liverpool e do Chelsea, mas esses estão em uma fase bem complicada com campanhas bem decepcionantes. Melhor para o Arsenal, que tem dois rivais a menos e tem todas as condições de voltar a ser campeão nacional depois de longos dezenove anos. É só não vacilar!

 

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