BARÇA ATROPELA MADRID EM CLÁSSICO SIMBÓLICO


O primeiro texto de 2023 não poderia ser sobre um jogo qualquer. O El Clássico, Barcelona x Real Madrid, valido pela final da Supercopa da Espanha foi disputado em Riad, capital da Arábia Saudita, simbolizando a força do poder financeiro dos países árabes e sua enorme riqueza em petróleo e gás. Tradição continua importante, contudo, a ideia de um futebol globalizado com aportes financeiros ilimitados é sedutora. Isso faz com que clubes como Barcelona e Real Madrid não sejam apenas espanhóis, mas equipes mundiais com apelo em qualquer lugar do planeta.

Apesar de tratar esses elementos como algo representativo, o simbolismo que vou abordar aconteceu dentro de campo no duelo que terminou com vitória do Barça por 3 a 1. O clássico deste domingo expos algo que começou a ser percebido, mas não debatido: as deficiências coletivas do Real Madrid, escancaradas pelo inconstante Barcelona de Xavi Hernandez. A vitória incontestável da equipe catalã se deu pela capacidade de seu treinador de entender que impor o seu estilo não significa não se adaptar as qualidades do time adversário.

O Barcelona apostou em um time jovem, rápido, físico em alguns momentos que soube alternar durante o jogo a velocidade apoiada por uma marcação agressiva e o seu tradicional estilo de posse de bola. A defesa formada por Araújo, Koundé, Christensen e Balde não deu espaços ao ataque merengue. No meio-campo, a escalação de De Jong ao lado de Busquets deu poder de marcação e controle de espaço a equipe, além de dar mais liberdade a dupla Pedri-Gavi. No ataque, a velocidade de Dembelé associada a mudança de movimentação de Lewandowski, vindo participar do jogo e abrindo espaço para seus companheiros foi essencial para confundir a defesa do rival. A tática de usar Gavi como um hibrido de meia e ponta pelo lado esquerdo foi tão certeira que o jovem participou de todos os gols, marcando ou dando assistência, sendo eleito o melhor em campo.

Do lado do Real Madrid, as notícias não são animadoras, pelo contrário, questões que foram deixadas a margem devido a conquista da Liga dos Campeões agora motivam debates e discussões. O time vencedor padece com problemas físicos dos titulares e a irregularidade dos substitutos, em grande maioria jovens que tem um futuro promissor, mas um presente de oscilações. A questão física e o envelhecimento do time que venceu cinco Champions em dez anos volta à pauta principalmente com a fase técnica ruim dos titulares veteranos. Aliada a parte física e técnica, tem a parte tática e de formação do time pelo treinador Carlo Ancelotti. A saída de Casemiro, pilar defensivo que dava um misto de equilíbrio e tranquilidade ao time, ainda é muito sentida. Tchouameni, o jovem francês que substituiu o brasileiro, ainda não traz essa sensação ao time e ontem com sua ausência por lesão ficou provado que a situação pode piorar.

A defesa passa por uma crise técnica, exceção do goleiro Courtois, o meio-campo sofre com o inevitável envelhecimento de Kroos e Modric e o ataque depende de lampejos de Vinícius Jr, principalmente com os problemas físicos de Benzema. Para completar, a sina de Ancelotti em fazer uma temporada vencedora seguida de uma ruim parece voltar a assombrar o campeão europeu.

O resultado deste conjunto de fatores de lado a lado foi o triunfo com autoridade do Barcelona, um time mais jovem e inteiro fisicamente que o rival. Em nenhum momento do jogo o Real Madrid passou a impressão de equilibrar as ações e a derrota na forma como se deu preocupa para a sequência da temporada, principalmente o duelo contra o Liverpool pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. Talvez a sorte do time merengue é que a equipe inglesa passa por um momento horrível em uma temporada bem decepcionante para os Reds.

Por isso considero o clássico simbólico. Até este momento da temporada, o Real Madrid era apontado como o time que teria o projeto perfeito para o futuro: contrata e forma jovens talentos para o futuro que assumirão o protagonismo quando os veteranos não conseguirem render em alto nível. Talvez o projeto seja bem-sucedido, contudo, isso não significa que será um mar infinito de tranquilidade. Quanto ao Barcelona, o time que praticamente faliu a dois anos e que ainda tem uma situação financeira muito delicada tem a esperança que o projeto capitaneado por Xavi renda frutos dentro de campo e muito lucro fora dele, afinal, o Barça adotou a arriscada estratégia de vender parte do patrimônio e direitos futuros para formar uma equipe competitiva. Há esperança para os blaugranas!

Tudo isso faz com que o clássico possa ser a virada de chave para as equipes na sequência da temporada. Na última vez, foi uma goleada por 4 a 0 sofrida para o rival dentro de casa que fez o Real Madrid se acertar até chegar ao título nacional e europeu. A esperança é que o filme possa se repetir. Para o Barcelona, o triunfo de ontem serve para mostrar que existe vida sem Messi e que os jovens jogadores produzidos em La Masia podem ser a solução para o futuro, como foram a quinze anos atrás quando o time se desfez de Ronaldinho e na sequencia ganhou a tríplice coroa.

Se tudo isso que falei irá se confirmar, só o tempo dirá e, convenhamos, o futebol é um esporte que quase sempre deixa a lógica e a justiça de lado.

 

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