FALTA CRITÉRIO PARA ESCOLHER O TREINADOR DA SELEÇÃO


Depois de muita especulação, nomes ventilados e silencio absoluto da CBF, enfim surgiram as primeiras alternativas ao cargo de treinador da seleção brasileira. Segundo a reportagem do jornal Lance, a entidade que comanda a equipe nacional formulou uma lista com quatro nomes de técnicos estrangeiros como prioridade. São eles: o francês Zinedine Zidane, o espanhol Luís Enrique, o italiano Carlo Ancelotti e o português José Mourinho.

Afinal, quais as semelhanças entre os modelos de trabalho dos técnicos citados? A resposta é: nenhuma! Isso demonstra que a CBF não difere em nada dos clubes nacionais na hora de escolher o treinador. A bagunça é um fator comum em ambos. O resultado da falta de rumo é uma seleção que irá igualar seu maior jejum de conquistas mundiais em 2026: 24 anos.

A bagunça generalizada começa no processo de escolha. Todos os membros da comissão técnica foram demitidos após o mundial do Qatar e a tesoura chegou até o corpo diretivo: o coordenador de seleções, Juninho Paulista, também foi dispensado. Ednaldo Rodrigues, o atual presidente da CBF, afirmou que a escolha do treinador será decidida exclusivamente por ele mesmo. Quanto ao diretor, pretende escolher um perfil experiente, profissional que tenha passagem por clubes, além de contratar um coordenador para cada seleção. Teríamos um diretor de seleções e abaixo dele um coordenador para cada seleção. O problema é: falta critério para escolher todos os cargos citados! Fala-se de Thiago Scuro, diretor de futebol do RB Bragantino e também de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e que foi diretor de seleções da CBF entre 2010 e 2012. Mais diferente, no caso, impossível.

Agora, quando chega nos treinadores, o abismo no critério aumenta. São quatro perfis totalmente diferentes. Zidane tem o peso de ser um dos maiores jogadores de todos os tempos e como treinador foi tricampeão da Liga dos Campeões pelo Real Madrid, contudo, seu método de trabalho baseado em uma certa distância dos jogadores e um estilo de jogo pragmático coloca em dúvida um eventual sucesso na seleção. Sua relação com os jovens no Real Madrid não era boa e a imprensa espanhola noticiava que o francês não era muito fã do futebol de Vinícius Jr e Rodrygo, dois jogadores que devem servir de referência para o próximo ciclo da seleção.

Luís Enrique é o oposto de Zidane: intenso, ofensivo, relação próxima com os jogadores, temperamento forte e monta seus times com posse de bola junto a velocidade para atacar e defender. Devido a sua disposição firme em defender as próprias ideias e escolhas, o confronto com imprensa e direção esportiva pode ser frequente, algo que a CBF não está acostumada.

Carlo Ancelotti tem suas particularidades: estilo conciliador, diferente de Zidane e Luís Enrique, aposta no estilo centrado em uma defesa sólida, transição rápida e usa sua experiência para orientar os jovens, fato que se mostrou positivo no Real Madrid com as evoluções técnicas e táticas de Vinícius Jr, Rodrygo, Militão entre outros. Sua experiência em torneios de mata-mata e a forma como lida com os jogadores que treina o faz ser o favorito para treinar a seleção.

José Mourinho não deixa de ser diferente dos outros: estilo defensivo, jogo mais físico ancorado na defesa forte, meio campo marcador e a bola parada como principal arma ofensiva. Os atacantes não são favorecidos no modelo do português e devem ser certeiros quando tiverem a oportunidade, que não surgirá muitas vezes. O temperamento explosivo, confrontando jogadores em público seria um desafio para os atletas da seleção, acostumados ao companheirismo do comando técnico. O melhor exemplo disso é que o português é apontado como o grande responsável pela saída de Kaká do Real Madrid por divergências sobre o rendimento do brasileiro.

Os quatro são técnicos vencedores e já provaram o seu valor pelos clubes que dirigiram. A questão é: os perfis demonstram que a CBF não tem certeza no modelo de jogo que planeja para a seleção. Talvez a única semelhança entre eles seja a capacidade de tirar os jogadores da zona de conforto dos últimos anos. Mais profissionalismo e menos paternalismo é essencial no próximo ciclo.

Para completar, o escolhido, caso aceite liderar um projeto, terá que lidar com as exigências e burocracias da CBF. Um exemplo disso é que Ednaldo afirmou que deseja a seleção atuando com mais jogadores que atuem por aqui. Uma contradição pois já faz tempo que os melhores jogadores do país atuam na Europa.

Independentemente de quem seja escolhido, a certeza que temos é que a CBF não tem critérios para escolher o técnico da seleção. Talvez espere que a sorte sorria para nós como sorriu para os argentinos. O problema é que uma seleção do porte do Brasil não pode apelar para esse tipo de estratégia patética.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O VELHO LOBO E O KAISER

VINI JR E O DILEMA SELEÇÃO E CLUBE

MADRID AMASSA UM BARÇA DEPRIMENTE