A TENTATIVA DE DIMINUIR PELÉ

Um tema muito comum nos dias atuais está em pauta retornou as mesas de debate mais uma vez esta semana. A disputa pelo posto de melhor jogador de todos os tempos. O assunto gera polêmicas e discussões intermináveis cada vez que é resgatado, aflorando paixões, sentimentos dos dois lados do Atlântico.

Esta semana, o jornalista espanhol Maldini, conhecido por ser uma referência em analises do futebol internacional na Espanha, expôs sua lista dos cinco melhores de todos os tempos na seguinte ordem: Maradona, Messi, Pelé, Cruyff e Beckenbauer. Até aí não vejo problemas, cada um tem direito de manifestar suas opiniões e preferências. O que me causou espanto foi o motivo (ou falha) para apontar Pelé como o terceiro melhor: não jogou na Europa, por isso não era muito conhecido.

Qualquer pessoa que estude ou pesquise sobre futebol enxerga a opinião de Maldini como um erro grave e grosseiro. O jornalista ainda argumenta que Pelé é o exemplo de jogador perfeito, completo e aponta o motivo citado acima como defeito. Então recordo alguns fatos: Pelé não jogou na Europa por falta de ofertas, mas por opção própria. Existem vários documentos e informações que comprovam propostas de Inter de Milão, Juventus, Milan, Real Madrid e o ainda jovem PSG para levar o camisa 10 do Santos e da seleção brasileira. A questão é que o principal futebol do mundo aquela época era praticado aqui, os melhores jogadores atuavam aqui e a prova desta afirmação se dá no fato de que o Brasil venceu três mundiais no espaço de doze anos, um feito inédito e até hoje não alcançado.

Essa afirmação do jornalista espanhol é simbólica. Nos dias atuais, existem uma serie de pessoas que para validarem o argumento de que os atletas atuais são melhores, buscam diminuir os feitos alcançados por jogadores de gerações passadas e a força para apagar o que Pelé fez vem aumentando cada vez mais. A voracidade que algumas pessoas têm em apontar Messi ou mesmo Maradona, que pertence a uma geração não tão antiga quanto Pelé, como os melhores de todos os tempos é assustadora. O movimento crescente na Europa para desabilitar o brasileiro é impressionante e ganha eco e adeptos por aqui, principalmente na imprensa.

Os números impressionantes de Pelé são os mais atacados: de 1281 gols caíram para menos de 800. A justificativa: não são considerados gols em amistosos, apenas em partidas oficiais. A questão é que os amistosos eram comuns no período em que Pelé atuou nos gramados. Grande parte dos gols marcados em amistosos pelo Rei foram contra equipes de ponta da Europa ou de outros continentes.

Messi, por exemplo, ganhou força para ser o melhor graças ao título mundial com a Argentina, a taça que lhe faltava. Pelé, no caso, ganhou três troféus do mesmo torneio e em dois foi protagonista, o primeiro com apenas 17 anos. Não tenho problemas em aceitar que alguém supere Pelé, mas acho que para isso o candidato tem que superar os números estabelecidos pelo Rei e não recorrer ou sustentar opiniões em critérios fajutos ou revistas de conceitos duvidosos.

Quanto ao desempenho dentro de campo, é inegável que Pelé ainda permanece um degrau acima dos demais pelo fato de ter sido um jogador completo, talvez o único a conseguir unir um talento acima do comum a uma capacidade física e atlética assombrosa. Quem viu os três (Pelé, Maradona e Messi) jogarem aponta o brasileiro em posição de vantagem sobre os outros dois. Cito como o grande exemplo a figura de Cesar Luiz Menotti, treinador campeão do mundo com a Argentina em 1978 e referência na formação de treinadores das gerações seguintes. Menotti jogou com Pelé no Santos, treinou Maradona na copa de 1982 e foi coordenador técnico da Argentina de Messi em 2010. “El Flaco”, como é conhecido popularmente no meio futebolístico, ainda vai além ao afirmar que a diferença de Pelé para os outros é assustadora.

Não vou citar aqui as diferenças estruturais entre a época de Pelé e o período atual pois acho que isso é muito obvio. Penso que as condições enfrentadas pelo Rei só servem para valorizar ainda mais as marcas que conquistou. Pelé, além disso, foi representante de um povo, de uma cultura, de um esporte. Foi o primeiro atleta de reconhecimento global em uma época que o mundo sequer sonhava com a globalização. Histórias narradas por jornalistas brasileiros, que utilizaram o nome do Rei para abrir portas ou manter diálogos com outros povos, são inúmeras. Pelé inclusive sem saber salvou a vida do fotografo brasileiro mundialmente reconhecido Sebastiao Salgado, uma das histórias mais a qual este que escreve já leu.

Pelé transcendeu o esporte de uma forma espetacular, tem um simbolismo muito forte mesmo após sua morte. Isso ainda não foi alcançado por ninguém no futebol. Sua presença é forte 45 anos após se aposentar dos gramados.

Quanto ao jornalista espanhol, sugiro que procure um argumento melhor para essa discussão. Esse é RIDÍCULO!

 

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