GUARDIOLA, O REVOLUCIONÁRIO


 

 Nos dias atuais, escrever um texto associando as palavras Guardiola e Revoluçao tornou-se lugar comum. Confesso que para mim isso é impressionante e ao mesmo tempo assustador. Poucos profissionais, em qualquer campo, podem usufruir dessa associação imediata e Guardiola é um deles. Um revolucionário que une o futebol ao conhecimento, o estudo, a renovação do pensamento.

Guardiola tem inspirações variadas. Admira Telê Santana e o Brasil de 82 como um exemplo do futebol bem jogado. Se inspira em Marcelo “El Loco” Bielsa e suas inovações táticas baseadas em um futebol ofensivo/agressivo. Bebeu na fonte de Johan Cruyff, holandês que foi um revolucionário tanto como jogador quanto como treinador, que inclusive o treinou no Barcelona. Conversava por horas a fio com José Macia, o Pepe, companheiro de Pelé no Santos e na seleção brasileira, que treinou o espanhol no final de sua carreira no mundo árabe, para entender a dinâmica dos times e jogadores brasileiros que assombraram o mundo nos anos 50 e 60.

Pep é um estudioso compulsivo e essa sede pelo conhecimento, pelo novo, trouxe a maior revolução do futebol nos últimos 40 anos. A ideia de se defender do adversário através da posse de bola ou marcando em linha alta para não deixar o outro time respirar são apenas algumas mudanças que o futebol experimentou desde que o espanhol iniciou sua carreira no Barcelona, em 2008.

O resultado dessa dedicação extrema nos últimos 15 anos vem são justificados em números. Em 14 temporadas disputadas (Pep não treinou clubes na temporada 2012/13) são 11 ligas nacionais conquistadas seja na Espanha, Alemanha ou Inglaterra. Com o título europeu conquistado a frente do City, Guardiola se igualou ao romeno Mircea Lucescu como o segundo treinador com mais taças conquistadas, 37, ficando atrás apenas de Sir Alex Ferguson, que tem 49 taças. O fato assustador é que o lendário treinador do Manchester United conquistou esse número em 49 anos de carreira e Guardiola chegou a 37 com apenas 15 anos de carreira.

O título conquistado pelo City neste sábado é a terceira Champions de Guardiola, empatando com Zidane e o lendário treinador do Liverpool, Bob Paisley. Pep agora fica atrás apenas de Carlo Ancelotti, com quatro taças. Os títulos e recordes conquistados até o momento legitimam Guardiola a reivindicar um lugar na prateleira dos maiores técnicos de todos os tempos, mas em minha opinião é o jeito de enxergar o jogo que marcará o legado de Pep no futuro.

Guardiola começou a carreira no Barcelona em 2008 e em quatro anos construiu um time que é considerado um dos melhores da história, senão o melhor. Acompanhou a saída de jogadores como Ronaldinho e Deco, despachou Eto’o e Ibrahimovic, bancou Xavi, Iniesta e Messi, formando um time que venceu a tríplice coroa em 2008/09 e batia rotineiramente no maior rival, o poderoso Real Madrid, com direito a humilhantes e inesquecíveis goleadas como o 6 a 2 em 2009 e o 5 a 0 em 2010. Enquanto o Madrid gastava milhões de euros para montar um time para competir com o Barça, Guardiola formou uma equipe com a maior parte de jogadores oriundos da base e contratações pontuais.

No Bayern, venceu todas as ligas que disputou e mudou a mentalidade de jogo do time bávaro. A frase “vocês não sabem jogar futebol” ecoou nos corredores do time alemão e a forma de entender o jogo mudou radicalmente, fascinando jogadores jovens e veteranos campeões mundiais.

Na Inglaterra, o maior teste de Pep: a liga mais disputada e equilibrada do mundo. Sete anos depois, Guardiola conquistou cinco Premier League, uma tríplice coroa e fez o City inaugurar uma dinastia na liga mais difícil do mundo, calando críticos que duvidaram da sua eficácia em campos ingleses.

Guardiola acredita que alcançou o nível atual porque ganha. A sua obsessão é vencer e vencer, como o mesmo já assumiu em entrevistas. Pep acredita que o resultado e apenas ele importa pois enquanto estiver os entregando será legitimado. Neste caso, me permito discordar dele.

Mesmo que daqui em diante não conquiste mais taças, algo que acho impossível, Guardiola já mudou o jogo. É disparado o melhor de sua geração, quiçá da história. Sua forma de enxergar o jogo mudou a dinâmica de clubes, seleções, do futebol. Prova disso é associar o nome de Guardiola a ideia de um revolucionário quase instantaneamente. O futebol o agraciou com isso.

Para finalizar, bem que Pep poderia trazer essa revolução para terras brasileiras. Unir o treinador revolucionário a seleção mais vitoriosa do mundo e a escola que trouxe o aperfeiçoamento ao futebol e que já revolucionou o jogo seria incrível. Este que escreve é um apoiador apaixonado dessa ideia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O VELHO LOBO E O KAISER

VINI JR E O DILEMA SELEÇÃO E CLUBE

MADRID AMASSA UM BARÇA DEPRIMENTE