SELEÇÃO BRASILEIRA 74: FRUSTRAÇÃO NA ALEMANHA


A seleção brasileira é a equipe com mais títulos da copa do mundo com cinco taças representadas pelas estrelas acima do escudo da CBF. Suas conquistas, vitorias em jogos históricos são lembradas, principalmente quando chega a época de disputar o torneio mais importante do futebol mundial. Nossa proposta, contudo, busca o caminho inverso e ingrato: falar sobre as derrotas.

Algumas dessas derrotas e eliminações repercutiram mais, casos de 50, 82, 98 e a constrangedora queda em 2014. Ao invés disso, vamos tratar de frustrações que não são lembradas com frequência, mas tem um impacto na história do futebol brasileiro, afinal perdemos mais copas do que ganhamos. O primeiro texto sobre esse tema será sobre uma copa frustrante e emblemática: 1974.

O Brasil chegou ao mundial daquele ano, sediado pela Alemanha Ocidental, com o rótulo de favorito, muito pela conquista do tricampeonato em 70 que encantou o mundo e garantiu o terceiro título mundial no espaço de doze anos. O problema é que a equipe encantadora de 70 não existia mais, começando pela principal ausência: Pelé. O Rei se aposentou da seleção em 71 e o vácuo que deixou era sentido mesmo diante de uma safra de grandes jogadores do período. Pelé era a principal referência técnica da equipe desde 1958 e o mundial de 74 seria o primeiro após o fim do ciclo do camisa 10 na seleção. Além do Rei, a seleção também não contava com Gerson e Tostão, aposentados, e Carlos Alberto e Clodoaldo, cortados por lesão. Os remanescentes daquela equipe mágica foram Rivelino, Jairzinho e Piazza, este promovido a capitão do time.

Apesar dos desfalques expressivos, o time contava com grandes jogadores além dos três citados acima. Nomes como Luís Pereira, Leão (reserva em 70), Marinho Chagas, Leivinha, Paulo Cezar Caju (reserva em 70), entre outros, integravam o time comandado por Zagallo, técnico da equipe em 70. Era o início de um novo ciclo, um processo de renovação inevitável ainda que doloroso.

O problema é que apesar do favoritismo, dos bons jogadores e da continuidade da comissão técnica tricampeã, o Brasil não apresentou o mais importante: bom futebol. O Brasil estreou contra a Iugoslávia com uma formação que nunca tinha jogado junta antes e o resultado foi um decepcionante 0 a 0. No segundo jogo, contra a Escócia, Zagallo fez alterações, porem o resultado foi o mesmo: novo 0 a 0. A classificação para a segunda fase veio apenas no último jogo e no saldo de gols: 3 a 0 sobre o Zaire. Detalhe: o gol que garantiu o avanço brasileiro foi marcado no final do jogo, por Valdomiro. O fato retratou o rendimento sofrível do time na primeira fase.

Na segunda fase, o Brasil entrou no grupo com Alemanha Oriental, Argentina e Holanda. No primeiro jogo, vitória por 1 a 0 sobre os alemães, gol de Rivelino. O segundo jogo, clássico com a Argentina e vitória brasileira por 2 a 1, gols de Rivelino e Jairzinho. As duas vitórias levaram o Brasil a decidir contra a Holanda quem seria o classificado para disputar a final, em Munique.

O jogo contra a Holanda foi um banho de água fria na seleção. Melhor preparados e com uma organização tática considerada revolucionaria, os holandeses não respeitaram o time brasileiro e expos todas as deficiências da equipe. Vitória da Holanda por 2 a 0, gols de Neeskens e Cruijff, em um jogo tão movimentado quanto violento. O Brasil perdeu duas chances claríssimas de gol, com Caju e Jairzinho, que poderia mudar o jogo teve a expulsão de Luís Pereira e não sofreu o terceiro gol graças a uma defesa incrível de Leão no chute a queima-roupa de Cruijff.

A derrota expos toda a falta de preparo da equipe antes e durante a copa, retratada na afirmação de Zagallo que não seria necessário observar os jogos da Holanda por não ter nenhuma novidade. Após a derrota, o próprio treinador afirmou que foi surpreendido pelo estilo de jogo holandês. O Brasil ainda perderia a disputa do terceiro lugar para a Polônia por 1 a 0, gol de Lato, no jogo que ficou marcado pela agressão de Leão a Marinho Chagas no vestiário durante o intervalo.

O mundial de 74 foi amargo para o Brasil. O time não perdia desde 66 e terminou com duas derrotas consecutivas. A ideia de Zagallo de considerar apenas o talento como algo necessário para ser campeão foi destruída impiedosamente pela Holanda e o sonho do tetracampeonato nunca esteve perto de acontecer.

Na primeira copa sem Pelé, o Brasil sofreu. A tradição da camisa 10 foi continuada por Rivelino, o melhor jogador brasileiro no torneio, mas insuficiente para conquistar o título. Apenas o talento não bastou. 74 também foi a última copa de Jairzinho, furacão em 70, mas que esteve abaixo na Alemanha.

1974 marcou o início do maior jejum brasileiro em copas, 24 anos, quebrado apenas em 94, no mundial dos Estados Unidos. Ao Brasil restaram apenas os lamentos e a saudade da Era Pelé.

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