BRASIL RETORNA À REALIDADE


Confesso que escrever sobre a vitória do Brasil sobre o Peru por 1 a 0, em Lima, é pouco gratificante. As eliminatórias sul-americanas para a copa do mundo são moldadas para classificar Brasil e Argentina, que certamente estarão no próximo mundial. Com 48 seleções a partir da próxima copa, brasileiros e argentinos vão se classificar mesmo se jogarem com suas equipes juvenis.

Agora, mais importante do que vencer o Peru e confirmar a liderança da tabela das eliminatórias, foi entender que o ciclo que será comandado por Diniz ou Ancelotti não será tranquilo como foi o período de Tite. Quando o ex-treinador do Corinthians assumiu a seleção, pegou terra arrasada. A estrutura praticamente não existia e a cobrança interna por resultados positivos, tampouco. Tite soube recuperar a equipe desmoralizada pelo 7 a 1, com duas eliminações vexaminosas em Copa América e transformou a seleção novamente no bicho papão do continente, temida até pelos argentinos. Até que vieram os dois mundiais e.... O resultado todo mundo sabe.

Dessa vez, o cenário é um pouco diferente. A Argentina é a atual campeã mundial e continental enquanto o Brasil ainda pensa o rumo que irá seguir. O jogo contra a Bolívia foi um breve momento de euforia. A seleção boliviana nunca foi lá essas coisas e ainda conseguiu piorar a tal ponto que nem a altitude de La Paz vem surtindo efeito, prova disso é a pancada sofrida para a Argentina (sem Messi). A vitória a duras penas contra o Peru, com gol nos acréscimos, mostra que o Brasil tem muito a avançar e que o modelo de Fernando Diniz não será implementado da noite para o dia.

Quanto ao jogo em si, faço algumas observações. É obvio que o time ainda tenta assimilar o jogo de movimentação de Diniz e sofre um pouco, principalmente depois de 6 anos utilizando o jogo posicional de Tite. Os espaços entre os setores terão que ser corrigidos e time precisa associar a posse de bola a velocidade, algo característico das equipes montadas por Diniz. Quanto aos jogadores, ninguém jogou bem. O time pareceu sentir dificuldades pelo campo seco e duro, não foi intenso e só melhorou quando Neymar veio buscar a bolar na linha defensiva. Dos desempenhos ruins, salta aos olhos a má fase de Richarlison, que ainda teve um gol anulado. Aliás, quando o Brasil acelerou um pouco, conseguiu entrar na defesa peruana, fazer dois gols que foram anulados e exigir duas boas defesas do goleiro Gallese.

Diniz demorou a substituir, não mexeu no desenho tático da equipe e demonstrou apego aos jogadores, dando a entender que não queria queimá-los e contou com a sorte: o gol de Marquinhos é uma jogada da era Tite. O caso de Richarlison é exemplar: ontem ficou evidente que o camisa 9 não merece ser convocado enquanto não se recuperar tecnicamente e psicologicamente. Seleção não deve recuperar jogador, deve chamar aqueles que reúnem as melhores condições de desempenhar um bom papel, o que não é o caso de Richarlison no momento.

De volta a realidade, o Brasil deve refletir sobre o modelo de jogo que vem usando pelo menos desde 2010, o 4-2-3-1, com jogadores estáticos em cada parte do campo, com nível baixíssimo de movimentação. Esse esquema substituiu o tradicional 4-4-2, ora com 2 volantes e 2 meias, ora com um losango, que vinha sendo aplicado desde o início dos anos 90, com breve pausa para o 3-5-2 de Felipão em 2002. Nesse 4-2-3-1, time se mexe pouco e tem que depender de um pivô no comando do ataque, o que complica a situação do Brasil pela safra ruim de centroavantes.

No 4-3-3 de Diniz, onde os pontas também jogam como meias, é preciso que o time se movimente o tempo todo e tenha laterais que vão a linha de fundo, o que não é o caso de Danilo, flagrante ontem. O problema é que para executar esse tipo de esquema precisa-se de tempo e treinamento, algo impossível no mundo de seleções, onde os atletas praticamente se reúnem e vão para o jogo. Por isso, entendo que ontem o Brasil voltou a realidade de um projeto que está no início e nem faço questão de comparar com a seleção argentina que tem o mesmo treinador a 5 anos.

Penso que nossa geração não é brilhante, mas é melhor que a safra argentina, por exemplo. Os Hermanos terão muito trabalho sem Messi porque não tem jogadores acima da média para liderar a equipe. No caso brasileiro, Vinícius Jr e Rodrygo já deram mostras que podem fazer esse papel, hoje de Neymar.

Para finalizar, um detalhe sobre o jogo de ontem: é inadmissível que o var demore SEIS MINUTOS para decidir se um gol é legal ou não. O lance de Richarlison é duvidoso, principalmente quando as câmeras de observação estão em diagonal, e mostra que o var é uma tragédia para as bandas de cá.

Fica a dica: caso a ridícula equipe de arbitragem não saiba, em lances assim, na dúvida, É GOL!

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O VELHO LOBO E O KAISER

VINI JR E O DILEMA SELEÇÃO E CLUBE

MADRID AMASSA UM BARÇA DEPRIMENTE