REAL MADRID E A FALTA DE UM 9


Escrever sobre a carência de camisas 9 no futebol mundial no momento parece ser uma obviedade. Pouquíssimos times tem a felicidade de contar com um centroavante que pode entregar de 30 a 40 gols por temporada. Barcelona, Manchester City e Bayern de Munique provavelmente são os únicos times com camisas 9 consolidados; titulares absolutos da posição que ocupam.

Agora, nenhum time do mundo sente tanto a falta de um camisa 9 quanto o Real Madrid. Talvez o time espanhol seja, ao lado do Bayern, os times que mais se identificam com o sistema que defenda o camisa 9. A diferença é que o time alemão resolveu o seu problema: pagou 100 milhões de euros ao Tottenham pelo artilheiro e capitão da seleção inglesa, Harry Kane. No caso do Madrid, a diretoria optou por uma jogada arriscada: não contratou ninguém para substituir Benzema.

A razão da tática do Madrid em abrir mão do 9 tem uma explicação: o time tem a certeza de conseguirá fisgar Mbappé, do PSG, de graça a partir da próxima temporada, quando o francês fica livre no mercado. A questão é: será que Mbappé realmente quer sair do Paris para o Real na próxima temporada? Depois das saídas de Neymar e Messi, que não tinham muita afinidade com o francês, a tão sonhada contratação merengue fica cada vez mais incerta. Mbappé alimenta os rumores com indiretas em redes sociais e fala não querer renovar com o Paris, mas o cenário já foi mais animador para o Real.

Isto posto, o que fica para o Real Madrid é o vazio no elenco causado pela saída de Benzema para o futebol. Claro que o francês entregava um número consistente de gols por temporada. A questão é que a dependência do Madrid de um camisa 9 é bem mais antiga que a relação com Benzema.

A conexão entre o Real e o 9 existe desde os anos 50. Naquela época, o argentino Di Stefano era o grande goleador e líder da equipe. Liderado por ele, o Real alcançou a marca inédita de vencer 5 Copa dos Campeões consecutivas, entre 1955/56 e 1959/60, algo inalcançado até hoje. Depois de Di Stefano, vieram nomes como Butrageno, Hugo Sanchez, Morientes, Ronaldo, Higuain. Sem falar dos camisas 7 que atuavam fazendo o papel de 9, casos de Raul e Cristiano Ronaldo. Benzema foi mais um em uma linhagem impressionante do time merengue.

O problema é que o costume amarrou o Real Madrid a um modelo de jogo que é considerado inviável para as pretensões do clube na atual temporada. Sem Benzema, Mbappé ou Haaland (o Plano B), o Real apostou suas fichas no esforçado Joselu, que foi um dos poucos que se salvaram na temporada passada medíocre do Espanyol, que acabou no rebaixamento do time em La Liga. Joselu foi considerado uma alternativa provisória para ocupar um espaço que espera por Mbappé.

O resultado é que o Real abandonou o 4-3-3 depois de 10 anos jogando com três atacantes. Ancelotti optou por usar o 4-4-2 clássico, com um losango no meio-campo e Bellingham no papel de camisa 10 que entra na área enquanto a dupla de atacantes é composta por Vinícius Jr e Rodrygo, dois atacantes de velocidade, porém características para jogar de referência centralizada.

Os últimos jogos do Real mostram que o time não sabe o que fazer um 9. Apesar do bom começo no campeonato espanhol, o clube vem demonstrando uma queda latente no setor ofensivo. O sofrimento para ganhar do estreante Union Berlim na estreia da Champions League e a derrota para o Atlético no derby de Madrid provam que o Real não está preparado para jogar sem um 9. Para completar o cenário, o time ainda vem atuando sem Vinicius, fora por lesão muscular, nos últimos jogos, o que aumenta a falta de capacidade efetiva ofensiva.

Os problemas atuais certamente farão o Real procurar um 9 na janela de inverno. A questão é que o time espanhol não quer gastar muito, para não comprometer a provável chegada (ou não!) de Mbappé. Enquanto isso, os times certamente exigirão um dinheiro em uma eventual transação, algo que o Real não está disposto a fazer. Eis que o Madrid tem um dilema: contratar ou esperar o imprevisível Mbappé. No final das contas, a bomba pode estourar no colo de Ancelotti. Segundo notícia do jornal Marca, o Real não deseja renovar com o italiano e procurar encaminhar a chegada de Xabi Alonso, técnico sensação do surpreendente Bayer Leverkusen, para a próxima temporada.

Caso Mbappé venha, terá uma enorme reponsabilidade sobre os ombros. Caso não chegue, o Real terá feito papel de ingênuo e passará a vergonha de ter sido temporadas a fio pelo francês e como no futebol alguém tem que pagar a conta, pode sobrar para Ancelotti a culpa pelo fraco desempenho ofensivo do time.

Caso isso ocorra, essa briga terá um grande vencedor afinal: Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF e fã de carteirinha de Ancelotti. Na briga entre espanhóis e franceses, quem pode triunfar é a seleção brasileira.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O VELHO LOBO E O KAISER

VINI JR E O DILEMA SELEÇÃO E CLUBE

MADRID AMASSA UM BARÇA DEPRIMENTE