O INFERNO ASTRAL DO MANCHESTER UNITED
Falar sobre crise no Manchester United não soa uma novidade. Desde a aposentadoria de Sir Alex Ferguson em 2013, os Red Devils passam por reformulações e frustrações que se acumulam ano após ano. Enquanto isso, seus principais rivais dominam o cenário nacional e internacional, conquistando títulos e impondo derrotas humilhantes ao United. Um verdadeiro calvário.
Nos últimos 10 anos, o clube investiu pesadamente em contratações de jogadores e treinadores renomados. A questão é: gastaram corretamente? Chegaram jogadores do nível de Pogba, Cristiano Ronaldo, Di Maria, Cavani. Pelo comando técnico, passaram promessas como Ole Gunnar Solskjaer, medalhões como José Mourinho, Louis Van Gaal e soluções caseiras como David Moyes. Nenhum suportou a bagunça e desorganização que virou o Manchester United.
O clube parece perdido e parado no tempo. A família Glazer, que comprou o clube a 20 anos, não investiu na infraestrutura do clube e repassou ao United a dívida contraída para a compra do próprio clube. Uma malandragem inacreditável! Como resultado, o time tem uma das maiores dívidas da Inglaterra. Enquanto os Glazer faturam alto com o clube, a torcida sofre com a incompetência dos dirigentes nomeados pelos americanos para gerir e planejar esportivamente o clube.
O resultado disso tudo influi no campo. O United não vence a Premier League desde 2013, última temporada de Ferguson a frente do time. Figura carimbada na Liga dos Campeões, o clube sofre para se classificar atualmente, quando consegue. Enquanto isso, o rival da cidade, o Manchester City, empilha taças e impõe um domínio assustador na Inglaterra, passando por cima dos rivais.
E o United? Não cria nada, não disputa títulos importantes e sofre goleadas com certa frequência nos clássicos. A última reformulação aconteceu na temporada passada, quando o clube trouxe Ferguson de volta para atuar como um consultor informal e fez uma nova renovação no comando técnico e grupo de jogadores. O clube até conquistou uma Copa da Liga Inglesa, más passou longe da briga pelo título nacional. O novo treinador, Eric Tem Haag, conseguiu montar um time mais sólido, com as chegadas de Casemiro, Antony, Eriksen e a permanência de Bruno Fernandes e Rashford, contudo, não escapou de derrotas humilhantes: 6 a 3 para o City e 7 a 0 para o Liverpool, essa a derrota mais dolorida de todas. No meio de tantas mudanças, Tem Haag ainda colocou Cristiano Ronaldo no banco, fato que motivou a saída do astro português para o futebol saudita no início de 2023.
Nesta temporada, a crise continua. O time padece na Premier, sofre com o recorde negativo de gols tomados no início da temporada e está no meio da tabela, muito longe dos líderes. Como se a decepção não fosse o bastante, o time perdeu os dois primeiros jogos na Liga dos Campeões, incluindo um 3 a 2 de virada para o Galatasaray em pleno Old Trafford. As contratações, com destaque para o goleiro Onana, vindo da Inter de Milão, estão rendendo muito abaixo do esperado e os problemas extracampo, casos de Antony e Sancho, abalam o vestiário. A série de derrotas já ameaça inclusive o cargo de Tem Haag, absolutamente impotente diante do péssimo momento do time. Um inferno astral que não tem fim em Old Trafford.
Depois da descrição apocalíptica, exponho humildemente minha opinião sobre o futuro do clube. A única solução que vejo para o United passa por uma reconstrução de cima a baixo da instituição. Está claro que os Glazer não têm mais condições de gerir o clube e se tiverem o mínimo de bom senso (acho que não tem) deveriam vender o United para alguém que realmente esteja interessado no time. Apenas com a venda do clube, pode ser feita uma reconstrução decente, com a troca do comando esportivo e avaliação criteriosa da comissão técnica e elenco. Não há outra alternativa minimamente aceitável senão a saída dos americanos do clube.
O preocupante é que os Glazer aparentemente não têm interesse de fazer a venda. Depois de intensos protestos dos torcedores, a família americana comunicou que estava recebendo ofertas pelo clube. O processo, que se arrasta a pelo menos 1 ano, não mostra sinais de evolução e as ofertas dos dois principais interessados, o empresário inglês Jim Ratcliffe e o Sheik Al Thani, primo do emir do Catar, sequer passam um processo real de análise. Os jornais ingleses apontam que os Glazer querem pelo menos 8 bilhões de libras, algo considerado irreal para os padrões do futebol, mesmo se tratando de uma marca valiosa como é o Manchester United.
Dito isso, o inferno astral do United continua e o pior: o futuro parece sombrio ao clube. Os Glazer demonstram que vão querer sugar o clube até a última libra. A torcida se revolta, protesta e nada acontece. Fico triste por isso, pois o United é uma das referências que tenho desde que comecei a acompanhar o futebol. Lembro do pavor dos adversários a cada confronto com o United de Alex Ferguson.
Se continuar assim, os ingleses terão que mudar o hino do país: ao invés de Deus Salve o Rei (ou Rainha), terão que cantar Deus Salve o Manchester United, porque do jeito que estão as coisas, só um milagre para reerguer o United.
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