MENOTTI TEM RAZÃO


 “Me dá vergonha o que acontece com o Brasil. Eu vivi uma época maravilhosa deles, na Copa do Mundo de 1970”.

“Acredito que há uma decadência cultural. E não entendo como se pode jogar tão mal, sem sustentar toda a sua história brilhante. ”

As frases de indignação acima poderiam ser de qualquer brasileiro. Mas não são. Pertencem ao argentino César Luís Menotti, treinador campeão com a Argentina em 78 e considerado o maior treinador da história do seu país, nosso maior rival. Destaco isso para demonstrar o impacto da má fase que assola o futebol brasileiro, marcado por seguidos vexames em todas as categorias de seleções, da base ao profissional, feminino ou masculino. Irrita até os nossos rivais.

A indignação expressada por Menotti tem lógica. O argentino considera Pelé o melhor jogador da história e defende o seu ponto de vista com uma lucidez e paixão poucas vezes vista. Além disso, considera o Brasil de 70 a melhor equipe a pisar no campo de jogo. Seu desabafo advém do fato de que jogou com Pelé e enfrentou a seleção e os times brasileiros no auge técnico do nosso futebol. Sua visão do jogo bonito praticado na sua plenitude o leva a falar em decadência cultural do nosso futebol. Não é deboche, é um fato, ainda que difícil para o brasileiro.

Enquanto o amadorismo reinou no futebol, conseguimos nos sobressair. O processo de profissionalização chegou e ainda conseguimos nos manter no topo, embora a distância para os rivais tenha caído. O problema é: o profissionalismo atingiu um patamar inédito e o Brasil se recusa a aceitar que o futebol mudou. A desculpa do pentacampeão vai se tornando cada vez mais difícil de ser utilizada a medida que os fracassos se acumulam e as derrotas para times secundários do futebol mundial se tornam uma rotina. O respeito ainda existe, embora fique menor a cada dia.

Até 1958, reinava no futebol brasileiro o “complexo de vira-lata”, que desmerecia o nosso jeito de jogar e menosprezava os nossos jogadores. Era um mal terrível, afetava o nosso futebol, a nossa cultura. Até que chegou Pelé e entre 58 e 70 construímos a maior hegemonia da história do futebol de seleções. 12 anos, três copas vencidas, seleções inesquecíveis e o maior jogador da história.

Depois de 70, veio o complexo de pitbul, a arrogância de quem se jugava superior e não precisava aprender mais nada. O resultado: 24 anos sem título mundial. Os títulos de 94 e 2002 vieram quando baixamos a bola e tivemos equipes que souberam equilibrar o coletivo e o talento individual. Até que o pitbul voltou e a fila de 24 anos voltou a nos acompanhar e ainda não foi quebrada.

Não pretendo descrever os vexames ou motivos que levaram o Brasil ao momento terrível que atravessa. Isso todo mundo conhece, falar sobre isso seria cair na mesmice. Lamentar a decadência cultural de quem não admite erros e acha que está no caminho certo é irritante, mas se indignar contra é necessário.

Por isso, me junto ao senhor Menotti. Ele quer o seu rival, que sempre admirou, de volta. Eu quero o Brasil que assisti, li e pesquiso, de volta. Não é saudosismo, até porque o futebol bem jogado nunca fica fora de moda. A volta do Brasil faria bem a Menotti, a mim e, principalmente, ao futebol.

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